domingo, 8 de setembro de 2013

Diferença de tratamento

Poucas pessoas têm apontado tão acertadamente a diferença de tratamento que é dado em geral por comentadores, meios de comunicação, intelectuais e até autoridades à esquerda e à direita como o fez Fátima Bonifácio há dias no Público. É especialmente notória a diferença de tratamento dada à extrema esquerda e à extrema direita. A propósito da "displicência enfadada com que foi pela Esquerda acolhida a notícia da morte de António Borges", Fátima Bonifácio aponta com grande correcção a "condescendência generalizada ... de que os comunistas beneficiam e sempre beneficiaram". Esta condescendência é de facto generalizada, gozando os comunistas de uma grande compreensão mesmo de meios democráticos, em contraste com o modo como é vista a direita, em especial a direita radical mas também, embora em menor grau, mesmo a direita liberal.

Durante o regime do Estado Novo, já havia, entre os meios da oposição, grande compreensão e mesmo alguma simpatia para com os "nossos" comunistas, chegando-se por vezes a situações de colaboração em nome do objectivo comum de derrubar a ditadura. Mas os democratas sabiam bem que os fins e principalmente os meios (que, segundo a cartilha comunista, são justificados por aqueles) que os comunistas defendem não são aceitáveis pela democracia. Os democratas sabiam que a denúncia dos crimes de Estaline não era apenas propaganda do regime e, por vezes, a colaboração era difícil ou impossível por causa da tentação dos comunistas para controlarem as acções em que entravam. Depois do 25 de Abril houve uma grande abertura para admitir os comunistas no jogo democrático, mesmo depois de denunciadas as tentativas totalitaristas que levaram à reacção do 25 de Novembro. Em eleições livres verificou-se que o eleitorado comunista era uma pequena minoria, mas a influência dos comunistas na máquina do Estado e principalmente nos sindicatos e nas mais diversas associações e movimentos continuou a ser maior do que seria de esperar pela dimensão do seu eleitorado. É raro ver-se este facto denunciado ou sequer citado.

Como diz ainda Fátima Bonifácio, "Nunca os comunistas portugueses admitiram qualquer erro ou crime e ainda menos qualquer culpa. Nunca se demarcaram do estalinismo ... Isto ... cava em Portugal um fosso intransponível entre a Democracia e o Comunismo..." e "a Esquerda socialista e não alinhada não renega as suas origens ... e ... partilha com os comunistas, embora mais discretamente, a aversão pela Liberdade tal como os liberais a entendem, e abominam o regime capitalista em que ela nasceu, germinou e se expandiu."

Palavras que por muitos podem ser consideradas não "politicamente correctas", mas muito justas e muito oportunas. (Transcrição do blog Estado Sentido.)

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